Página de posts do Blog

28 de agosto 2017

Limites, disciplina e liberdade em uma escola Montessori

É comum recebermos para visitar nossa Aldeia famílias que buscam uma escola Montessori em nome da tão propagada “liberdade” que entendem que a metodologia oferece. Propaganda certamente não entendida, pois vejo essas famílias pensarem que seus filhos vão poder fazer o que quiserem na escola. Uma contrapartida do que parecem encontrar nas escolas que consideram “tradicionais”, nas quais muitas vezes não conseguem lidar com tudo que a criança precisa dar conta…

Porém, não é bem assim…

Liberdade, para Maria Montessori, está diretamente relacionada à disciplina, ao respeito e à competência para fazer escolhas. Ela diz que “o homem é tanto mais livre quanto for sua capacidade de fazer escolhas”; devendo agir de maneira assertiva, pois precisa conhecer as regras que regem um espaço social e que regulam a ética; respeitar o espaço do outro e desenvolver, entre outras funções executivas, o controle inibitório, que permite o autocontrole.

Para as crianças, liberdade é um exercício de disciplina que se desenvolve no dia a dia.

Quer seja na escola ou em casa, ter pequenas responsabilidades que contribuam para o bem-estar comum; aprender a esperar sua vez ou cedê-la ao outro; perceber que os outros também têm vontades e direitos que precisam ser respeitados e que nem sempre a vontade pessoal pode prevalecer.
Conquistar a liberdade é um processo que cada criança tem o direito de desenvolver com o apoio dos adultos. “A liberdade, do ponto de vista Montessori, também está relacionada ao direito de ser criança e de poder brincar. Isso porque brincadeira é trabalho de criança, de merecer do adulto as oportunidades de ajuda necessárias para que possa desenvolver seu potencial; descobrir seus talentos; ser respeitado em seu ritmo de desenvolvimento.”

As conquistas só vêm com a consciência do seu espaço e do espaço do outro; dos seus direitos e dos direitos dos outros; das suas responsabilidades e das responsabilidades dos outros, um processo de construção de limites.


Digo sempre que a disciplina da escola Montessori é fruto do exercício interno de cada criança, com o apoio dos adultos, no seu tempo e no seu ritmo.

Por isso, pode ser vista às vezes como a mais rígida, já que cada criança vai descobrindo, nas relações cotidianas, seu espaço de ação e o uso dele a torna livre – são suas escolhas a cada momento que vão ampliando.

Algumas crianças, considerando o princípio da equidade, forte característica numa escola Montessori, precisam de mais auxílio que outras. Aqui a ajuda que procuramos dar é na medida em que cada uma precisa.
Assim, caminhamos com as famílias para ajudar cada criança a desenvolver melhor seu potencial e constituir-se num indivíduo capaz de exercer e usufruir plenamente sua liberdade de “ser humano” – essa é nossa prática pedagógica.


O ambiente preparado de uma escola Montessori autêntica, com uma equipe em constante aprimoramento e famílias parceiras, as quais buscam os mesmos resultados e compartilham os mesmos valores, é sem dúvida o facilitador desse processo.

No cotidiano da escola e da família, os processos que se desenvolvem na infância são exercitados, descobrindo regras que podem ser questionadas; reconstruí-las se necessário; construindo com as crianças as percepções dos limites que levam naturalmente à edificação da disciplina e de um convívio social amável, no qual o respeito e a ética estão presentes. Para nós, esse é o verdadeiro sentido da palavra “liberdade”.

Márcia Righetti é educadora, fundadora e diretora pedagógica da Aldeia Montessori.