Dos 6 a 12 anos: O momento imperdível das regras!

Texto dedicado às famílias com filhos de 6 a 12 anos.

Por Marcia Righetti, formadora Montessori, pesquisadora, fundadora do projeto pedagógico da Aldeia Montessori e do Centro de Estudos Montessori do Rio de Janeiro.

Existe algo mais fascinante do que observar uma criança de seis a nove anos?

Nessa idade, em que hoje ela pensa que já não se é mais criança, mas ainda se encontra distante de ser efetivamente adulto; o ser humano ganha aspectos de uma singularidade ímpar. Maria Montessori chama este período de metamorfose, pelas transformações pelas quais passa a criança.

Fase da vida em que não é raro crescer mais de oito centímetros e engordar até três quilos em um só ano; meninos e meninas constituem espetáculos de originalidade indescritível.

Falam em profusão, atropelam palavras ou mergulham em silêncios cismadores profundos em seu caminhar – não se imaginam observados – equilibram-se em beiras, correm e param, apanham tudo que lhes emoldura e passagem, alternam breves corridas com pulos injustificáveis, engolem coisas extravagantes e, surpreendentemente, conseguem até chegar inteiros em casa. Em algumas circunstâncias, grudam-se nos jogos eletrônicos ou no computador; em outras, se largam inertes e estáticas diante da televisão.

As crianças nessa fase, dos sete aos onze anos de idade, um pouco mais, um pouco menos, apresentam-se no estágio de desenvolvimento cognitivo e habilidades mentais o que Piaget denomina “operações concretas”. Podendo fazer inúmeras coisas que quando menores não podiam, e por isso se tornam estranhas e tão fascinantes. 

Em geral, são agora capazes de operar símbolos da mesma forma como na fase anterior manipulam objetos. As palavras, os números e as pessoas, então, ganham significado especial e se incorporam a sua vida como jamais antes podia acontecer.

A imensa diferença entre a manipulação de coisas e de símbolos

Os números, por exemplo, entre as crianças pequenas, alcançam apenas o limite do que percebem; elas sentem que “um” não é a mesma coisa que “três”, mas jamais poderiam imaginar que cem mil são mais que quatrocentos. Já a partir da fase operacional concreta conquista-se o senso real dos números. O cérebro, que antes divagava entre a certeza concreta do um e do mais que um, ganha direito ao mistério dos milhares e desenvolve convenções fantásticas.

Tal como o número, as palavras deixam de se referir a coisas palpáveis e “assumem horizontes antes impensáveis”. Essa operação cerebral permite um novo nível de realizações, sonhos e fantasias dando origem ao pensamento mítico com que operam para entender “os mistérios”, abrindo caminhos para novas aquisições intelectuais e interpessoais.

Nesse estágio, dos 6 aos 12 anos, descobrem a capacidade de “operar seguindo regras”, que representará, para todo o sempre, a base do intercâmbio social duradouro.

Bom adulto

É chegada a hora maravilhosa de conclama-las a organizar “combinados”, roteiros de trabalho descobrindo que a maneira de se comportar ideal é aquela que obedece às convenções que democraticamente se construiu.

O bom adulto, nessa hora, não é o que estabelece limites, mas o que ajuda a criança a construí-los; não é aquele que a toda hora sabe apenas dizer “não”, mas quem encaminha a criança para dizer não a si mesma. Perder essa oportunidade constitui imperdoável lapso contra a educação.

A família e a escola precisam caminhar lado a lado, pois esta é tarefa de educadores. O processo só se concretiza com trabalho conjunto, valores e linguagens coerentes .

Quando uma criança aprende a construir e dominar as regras, conquista o pensamento silogístico, característico pela riqueza de conexões que é capaz de fazer, e está pronta para a educação formal, descobrindo que existem regras fonéticas, regras de escrita, regras de aritmética. 

Aprender regras possibilita poder participar de jogos complexos, criar seus próprios jogos, ordenar as linhas de seu destino. Enfim, tornar-se realmente pessoa.

Impossível afirmar que essa fase, dos 6 aos 12, é a mais linda fase do pensamento humano, posto que essa beleza seja inesgotável em todas as ocasiões desde o nascimento, mas seguramente é uma fase linda!

Felizes são as crianças que podem contar com adultos disponíveis para ajudá-las na construção das regras, adultos pacientes que explorem essa incrível competência mental, que apresentam neste momento, para construir um ser efetivamente social.

A dinâmica de uma classe Montessori oferece a possibilidade do exercício contínuo para a construção das regras, se construído um espaço de interações heterogêneas e democrático, onde todos devem ter direitos respeitados e responsabilidades, um espaço de exercício e de construção como também deve ser o da família.

Algumas dicas que podem ajudar!

😍 Substitua o hábito de “falar” com os filhos e descubra o prazer de “conversar”. Abandone a comunicação de apenas recados ou respostas monossilábicas para descobrir opiniões, crenças, impressões. Nesta fase o grande educador é o imprescindível aprendiz.

😊 Associe alta expectativa como carinhosa tolerância. Encoraje seus filhos a dominar tarefas e desenvolvê-las, mas saiba compreender as limitações e não faça das mesmas ícones de fracassos ou culpas.

🚵 Faça do lugar das crianças um ambiente estimulante. Proponha jogos, lance desafios, organize enigmas, invente passeios e brincadeiras. Incentive comportamentos imprevisíveis, dê muitos exemplos, raramente com palavras, principalmente com ações. Ensine seu filho a tocar, ouvir, cheirar, olhar, sentir… Faça-o descobrir o encanto da natureza e o fascínio oculto em toda paisagem.

👲👳 Exponha a criança à diversidade cultural, elimine preconceitos. Ensine-a com exemplos a perceber que as pessoas são diferentes, mas que sua singularidade não expressa necessariamente “certo ou errado”.
Mostre que homens e mulheres são iguais nos seus direitos, seus deveres e na validade dos seus sonhos. Saiba reconhecer, com humildade e espírito de superação os próprios erros.

👪 Faça da criança seu companheiro (etimologicamente = a que divide o pão). Não exerça controle rígido, aprenda a confiar com limites. Seja firme, mas extremamente sensato. Estimule-a a nomear seus sentimentos e aprenda a legitimar suas emoções. Ajude-a a perceber suas responsabilidades e seus compromissos, apoiando-a no que for preciso mas possibilitando o exercício. Converse abertamente sobre sexo, amor, paixão, desejo, guerra, droga. Tente libertar-se de suas “amarras”.

🙋 Ensine seu filho a ser um estudante. Mostra como é possível administrar o tempo, ensine a consultar dicionários, invente pesquisas, faça junto com sua criança para que ela possa treinar procedimentos com você, discutir opiniões, anime suas leituras, participe de seus programas. Mostre como você vê e pensa sobre as coisas, ensine-a a respeitar outras formas de emoção, beleza ou entusiasmo.

📚 Ajude seu filho a ser um leitor criativo. Leve-o à bibliotecas, fale com entusiasmo, de livros que leu, ensine a procurar a etimologia das palavras, leia e releia seus livros favoritos para a criança, peça a ela que leia trechos de livros para você, descubra com seu filho os muitos estilos de leitura até encontrarem aqueles com que se identifiquem, nunca deixe faltar material para escrever, para pintar ou desenhar (estas são formas de expressão que devem ser muito excitadas)… Se puder, disponibilize um computador e construa com seu filho “arquivos” com suas produções: diário, produções textuais, pesquisas, desenhos… Use jogos exploradores da metalinguagem.

Acredite que a criança é única e que o tempo rapidamente rouba-a de você.

Lembre que sua criança está construindo o adulto que um dia a há de ser!

Bibliografia

Duska R & Whelan M 1994, O desenvolvimento moral na idade evolutiva – um guia a Piaget e Kohlberg. São Paulo, Ed. Loyola.
Montessori, Maria, Da infância à Adolescência, Zig editora, Rio de Janeiro, 2006.
Montessori, Maria, L’autoeducazione nelle scuole elementare, Garzanti, Italia, 1950.
Revista Psicologia, Janeiro, 2008.

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leitura montessori

Dica de Leitura Montessori: A DESCOBERTA DA CRIANÇA, PEDAGOGIA CIENTÍFICA, Maria Montessori.

A nossa dica de leitura Montessori de hoje é A DESCOBERTA DA CRIANÇA, PEDAGOGIA CIENTÍFICA, Maria Montessori.

Registra a experiência da autora na 1a Casa dei Bambini com crianças de 3 a 6 anos. Foi publicado pela primeira vez com o título de “A Pedagogia Científica aplicada às crianças da Educação Infantil na Casa dei Bambini di San Lorenzo”, em 1909. Indispensável para entender o pensamento e as estratégias pedagógicas utilizadas na educação Infantil, nas classes de 3 a 6 anos.

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Temos ainda em nosso blog diversas indicações para leitura Montessori. Confira um pouco mais sobre o método Montessori aqui.

Maria Montessori

150 anos de Maria Montessori

A Educadora que valorizou o Aluno

Aprender está em cada um de nós.

“Se houver para a humanidade uma esperança de salvação e de ajuda, esta ajuda só pode vir da criança, porque é nela que se constrói o homem.”

Maria Montessori

Este ano celebramos os 150 anos de Maria Montessori, um dos poucos nomes na educação que são difundidos fora dos círculos de especialistas, com um legado que abraça adeptos em inúmeros países do globo.

Sua fundadora, a italiana Maria Montessori, uma das primeiras mulheres a se formar em medicina em seu país; foi também pioneira no campo pedagógico; ao dar mais ênfase ao protagonismo do aprendiz e ao seu processo de autoeducação.

Antes de mais nada, é importante dizer que Maria Montessori acreditava que a educação é uma conquista da criança, ao perceber que já nascemos com capacidade de ensinar a nós mesmos, se nos forem dadas as condições.

Assim, atividade, liberdade e um ambiente que ensina ao aluno são as bases da teoria; com ênfase para o conceito de indivíduo como, simultaneamente, sujeito e objeto de aprendizagem.

“O maior sinal de sucesso para um professor é poder dizer: as crianças estão trabalhando como se eu não existisse”

Maria Montessori

Ao defender o respeito às necessidades e aos interesses de cada estudante, de acordo com os estágios de desenvolvimento, correspondentes às faixas etárias; Montessori argumenta que seu método não contraria a natureza humana; e por isso é mais eficiente do que os tradicionais. Assim, os pequenos conduzem o próprio aprendizado e ao professor caberia acompanhar o processo e detectar o modo particular de cada um de manifestar o seu potencial.

Montessori acreditava que nem a educação nem a vida deveriam se limitar às conquistas materiais e que assim, os objetivos individuais mais importantes seriam: encontrar um lugar no mundo, desenvolver um trabalho gratificante e nutrir paz e densidade interiores para ter capacidade de amar.

A educadora acreditava que esses seriam os fundamentos de quaisquer comunidades pacíficas, constituídas de indivíduos independentes e responsáveis.

“A prova de sucesso de nossa ação educativa é a felicidade da criança.”

Maria Montessori

Nesse sentido, Maria Montessori não foi apenas uma educadora perspicaz e inovadora. Ela foi uma mulher à frente do seu tempo, que nasceu no século XIX e viveu até meados do século XX. Além disso, ela enfrentou ser a primeira estudante de medicina na Universidade de Roma e uma das primeiras na Itália, se opondo à própria família; sofreu com a discriminação por ser mulher; teve embates com o fascismo de Mussolini, assumiu a condição de ser mãe solteira em uma Itália extremamente religiosa e conservadora; viajou por inúmeros países; militou pela Paz e elaborou um sistema educacional que até os dias de hoje se mostra atual e eficaz.

Assim, ao escrever sobre Maria Montessori, notamos que este é um tema inesgotável para muitas folhas: suas descobertas; práticas; materiais de desenvolvimento e os livros que escreveu são elementos de estudo e reflexão há mais de cem anos.

Nós, da Aldeia, que carregamos “Montessori” no nome, somos a prova viva do legado imenso da italiana Maria Montessori que, nascida na pequena cidade de Chiaravalle, se tornou internacional.

A escolha da linha pedagógica da nossa escola está diretamente relacionada ao nosso encantamento com toda uma filosofia e concepção metodológica que coloca a criança no centro da educação; uma vez que valoriza o papel do aluno no processo de aprendizagem, não mais como um “objeto” a ser “preenchido”; com a Educação para a Paz que envolve e sedimenta as ações.

Ao longo dos nossos mais de 40 anos de atividade, cada dia que passamos temos a certeza de que a nossa opção pelo Montessori é o que nos permite oferecer às crianças e suas famílias uma ferramenta múltipla, plural, atemporal; que se adequa ao potencial de cada indivíduo para que viva melhor coletivamente.

Por isso, neste 31 de agosto de 2020, a Aldeia Montessori, juntamente com centenas de instituições educacionais espalhadas por todos os continentes, celebra com muita alegria os 150 anos do nascimento de Montessori.

Confira também: O tempo das crianças: estimulando criatividade com equilíbrio

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E de repente, a vida nos prega uma surpresa!

Escolas fechadas, pais trabalhando de casa, outros saindo para trabalhar. Crianças em casa, vídeo aulas, tarefas domésticas para serem feitas… Isolamento social! Pandemia! COVID-19!

Estamos navegando por mares nunca d’antes navegados… O novo causa para cada um uma emoção diferente ou uma comoção diferente… Cada um vai administrando isso a sua maneira e se reinventando, se redescobrindo…

A casa virou o único espaço de convivência para muitas famílias. E que bom que temos uma casa! Não é assim para todos, infelizmente, nós o sabemos…

Então, mesmo no meio desta balbúrdia causada por este vírus (Covid 19) que virou o mundo de pernas para o ar, é hora de descobrir em cada um de nós o que tem para agradecer. É isso que nos fortalecerá e nos permitirá ajudar nossas crianças.

Não é hora de ficar reclamando. Respire fundo. Vença um leão por dia, um dia de cada vez.

Mas de vez em quando permita-se ficar triste, só não deixe a tristeza “morar” em você, nem a angústia, nem a raiva… Todos estes sentimentos humanos que passam por nós algumas vezes. E ninguém disse que a gente tem que ser perfeito, não somos, somos humanos… 

Sempre que tenho na minha vida um desafio eu me pergunto o que tenho que aprender. Já vivi mais que a maioria de vocês, e já aprendi que vamos aprendendo a cada dia.

Nesse tempo em que pouco podemos exercer o controle das situações, o que não nos deixa tão confortáveis, precisamos pensar no que realmente podemos controlar.

O equilíbrio dos adultos vai se refletir no comportamento das crianças. Você não precisa ficar inventando coisas mirabolantes para distraí-las. Só precisa organizar sua casa para que e as crianças possam brincar livres, viver este momento e no jogo simbólico do livre brincar, elaborarem suas impressões dos fatos que estão vivendo.

As crianças também vivem as preocupações com o inusitado destes tempos de pandemia. Elas ouvem as conversas dos adultos, alguns vêem os noticiários, ouvem falar de pandemia, coronavírus ou Covid 19, mortes, sentem os pais preocupados com tantas coisas que não sabem imaginar.

Em casa, longe dos amigos, dos avós, das brincadeiras na escola. Sentem saudade disso tudo, mas a sua forma de expressar-se não é a mesma do adulto. 

Muitas vezes, portanto, o comportamento mais agitado ou mais angustiado é atribuído ao excesso de energia, que não tem sido gasta nas casas. Penso que elas estão sofrendo as mudanças no dia a dia a que estavam acostumadas, e não entendem o porquê. Ouvem as conversas dos adulto e pensam coisas. Na maioria das vezes não entendem e não sabem ainda lidar com as emoções,  muitas vezes não encontram respostas então podem acontecer os choros, os gritos a agitação, a recusa da alimentação, as brigas entre os irmãos.

Conviver em tempo integral é tão novo para elas… Então é importante que se tenha escuta de verdade para as falas das crianças, sem julgamentos, sem pré-conceitos.

Estamos tendo no meio deste furacão uma oportunidade única como pais, de uma convivência próxima de nossos filhos, 24 horas por dia.  Mas isso não é nada fácil!

Mas se olharmos pelo lado positivo, são muitas as coisas boas! Podemos então observar todas as suas reações, acompanhar de pertinho o que sabem fazer, ou o que ainda não sabem. Esta é uma oportunidade única e tem que ficar marcada como uma boa lembrança na vida das crianças. Mesmo vivendo tantos sentimentos contraditórios,  fortalecendo-as para encontrarem seu papel no mundo novo que se anuncia. Portanto, precisamos ouvir as crianças, elas precisam muito de espaço para o livre brincar, na casa e nos dias.

É por isso que dizemos que a organização da vida da comunidade familiar é importante para as crianças, mas não pode ser imposta: precisa ser construída. Precisamos fazer tudo isso com muito amor, acolhimento, e sobretudo respeitando o ritmo da criança. 

Essa é a nossa oportunidade de nos tornarmos pessoas melhores, de darmos aos nossos filhos o que eles precisam sempre e muito mais agora: amor, atenção e cuidados.

Nós aqui da Aldeia Montessori estamos nos empenhando em proporcionar bons momentos para as crianças, de distribuir afeto, de viver o prazer de estarmos juntos, de fortalecer vínculos, de viver em comunidade, de compartilhar, de respeitar o outro. Essas são as verdadeiras aprendizagens que ficam para sempre. Tudo o mais que as crianças precisam aprender, elas aprenderão com facilidade na volta à escola, e se estiverem fortalecidas, maior será o sucesso.

Para nós adultos, é tempo de servir para a criança, de cuidar para que saiam fortalecidas dessa experiência de vida, que nos pegou de surpresa.

Fiquem bem! Sejam pacientes com vocês mesmos! Só assim vocês poderão ser pacientes com as crianças.

Márcia Righetti é educadora, fundadora e diretora pedagógica da Aldeia Montessori e do Centro de Estudos Montessori do Rio de Janeiro, coach em Formação Montessori, especialista Montessori pela ABEM, Seton Montessori Institute (Chicago, EUA), CEM, Chile.

Nossa escola em Jacarepaguá e no Méier retorna às aulas em 2020.

O começo de um novo ciclo. Aldeia Montessori, escola em Jacarepaguá e no Méier, no Rio de Janeiro, volta às aulas em 2020!

Que bom estarmos juntos para mais um ciclo!

A cada ano preparamos nossa casa para receber as crianças.

No princípio era só uma casa, a Casa Escola, no Méier. Eram apenas três classes de Educação Infantil.

Agora são “as casas”, nossas duas unidades do Méier e uma na Freguesia, em Jacarepaguá. Cada uma delas com ambientes preparados para os seus ocupantes, crianças da Creche da Educação Infantil ao Ensino Fundamental.

Unidade I, Unidade II e Unidade III

Na Casa Escola, Unidade I, no Méier, a primeira delas, todos os ambientes ganharam pintura nova. A casa está linda e a nova sala de inglês e multimídia quase pronta… Então agora só fico pensando na carinha de cada uma das crianças, com as surpresas que aprontamos…

A Unidade II, também no Méier, é a Casa Creche, que desde o ano passado vem recebendo cuidados especiais com a remodelação dos ambientes. Ganhou agora, no espaço externo dedicado aos bebês, brinquedos novos e adequados a esta faixa etária. Na medida para seus usuários, em madeira natural: tem túnel, tem rampa, escada que vira balanço… E a encomenda já está feita para nossa unidade da Freguesia, escola no Jacarepaguá, pois por lá também temos a Creche da Educação Infantil.

Aliás, foi a Unidade III, da Freguesia, que recebeu mais melhorias desta vez. As surpresas serão muitas! Acho até que é melhor deixar que todos descubram, posso assegurar que está cada vez mais bonita, oferecendo ambientes climatizados, e cada vez com mais conforto para todos. Desta forma, estamos sempre evoluindo no cuidado com nossa estrutura para recepcionar nossos pequenos.

O tempo passa rápido! Nesse período entre o término de um ciclo e início de outro, temos apenas mês e pouco para fazer tudo isto funcionar… Mas sempre dá certo!

Mais de 40 anos de história

E por falar em tempo… A imagem daquela casa branca e azul do nosso início em 1978, no Méier hoje vive apenas nas nossas memórias.

Hoje, com 42 anos de prática pedagógica, somos uma Escola Montessori Autêntica. Nossa alegria é servir às crianças, fazer educação como ajuda à vida, contribuindo para a formação de adultos competentes viver o legado desta incrível cientista da educação que foi Maria Montessori.

Hoje, a Aldeia Montessori tem na Direção Geral, além de mim,  Marcia Righetti, que fundei a Aldeia Montessori dando início a toda esta história,  meus filhos Fabio e Bruno Righetti, e minha nora, Roberta Righetti, formando uma família dedicada a colocar em prática os princípios da educação pautados no legado de Maria Montessori.

Além de cuidarmos dos espaços físicos da nossa escola, cuidamos também da sua essência, a da formação de nossos colaboradores, buscamos fazer sempre da Aldeia Montessori uma escola de referência na aplicação do Sistema Montessori.

Conheça nossas unidades

Hoje somos três Unidades, atendendo às crianças da Creche da Educação Infantil ao 5º ano do Ensino Fundamental em horário escolar, estendido ou integral, para atender a demanda das famílias que servimos.

Em cada uma das nossas casas um ambiente peculiar, estruturado em conformidade com a ferramenta que escolhemos para a nossa prática pedagógica, o Sistema Montessori, assim  distribuídos:

Ao iniciarmos este ano letivo, reafirmamos nosso compromisso com a educação e com a qualidade dos serviços que prestamos.

Agradeço a todos pela confiança na partilha da educação de  seus filhos.

Sejam muito bem-vindos!

Márcia Righetti é educadora, fundadora e diretora pedagógica da Aldeia Montessori e do Centro de Estudos Montessori do Rio de Janeiro, coach em Formação Montessori, especialista Montessori pela ABEM, Seton Montessori Institute (Chicago, EUA), CEM, Chile.

O poder da educação para a formação de boas pessoas

A educação é levada a sério por pais responsáveis e que desejam um bom desenvolvimento de seus filhos. Assim, quando recebo pais pela primeira vez na escola, e faço isso há 40 anos, sempre pergunto a mesma coisa, e queria aproveitar e fazer a vocês essa mesma pergunta:

Você sabe por que traz seu filho à escola?

É por que tem que trabalhar? Será que pintou um sentimento de culpa por deixar sua criança pequena com outros? Você escolheu isso por ter avaliado que a escola traz benefícios às crianças?

Através do tempo as respostas vão mudando e hoje, muitas vezes, os pais querem que a escola os substitua, pois estão muito envolvidos com suas carreiras. Será isso possível? Infelizmente não…

A escola nunca substituirá a presença dos pais. Cada um tem seu papel na educação das crianças. 

Quantos de vocês têm filhos? Vocês se perguntaram qual é o papel da escola? E qual é seu papel na educação das suas crianças? Quantos de vocês se perguntaram se estavam escolhendo uma escola para educar seus filhos ou uma escola para complementar a educação que vocês estão dando a eles? E como saber isso?

Afinal, o que é educar as crianças?

Ainda hoje, para muitas famílias, educar as crianças é prepará-las para o vestibular, para o mercado de trabalho, para a vida, para serem felizes… Mas… Quanto tempo vai durar o vestibular? Que empregos serão esses? E qual será essa realidade? Que felicidade será essa? 

Quem já pensou que talvez educar as crianças seja apenas ajudá-las a se construírem como boas pessoas? Quando falo em boas pessoas, quero dizer éticas, solidárias, que sabem respeitar a si próprias, ao outro, ao ambiente — são responsáveis. São responsáveis consigo próprias e só isso já as faz competentes.

Boas pessoas, por serem colaboradoras, desenvolvem a criatividade; afinal, estão sempre buscando uma forma de ajudar a solucionar problemas. Encontrar as “saídas” também as faz pró-ativas.

Mas ninguém se torna uma boa pessoa no Ensino Médio ou na universidade se não viveu isso na infância, se não construiu esses modelos em seu repertório. Por isso, a escolha que vocês pais fazem sobre a escola de seus filhos é importante. A família e a escola em cooperação que vão tornar seu filho uma boa pessoa, um cidadão, um cidadão do mundo.

Sempre são nossas escolhas que conduzem a vida! 

Crianças precisam ser cuidadas desde pequenas, e são nossas escolhas, as dos adultos, que determinam esses cuidados. Para os pais, as escolhas começam quando resolvem ter um filho, ou mesmo quando são surpreendidos com a chegada de um bebê… Às vezes, isso também acontece… Tantos sonhos, tantos receios, tantos caminhos para escolher, tantas decisões, quanto para aprender… 

Para a escola, o começo é a escolha do modelo de educação que vai nortear suas ações: metodologia, as boas práticas que serão implementadas e vividas naquele ambiente.

As crianças vão começar a se construir como pessoas do bem com as escolhas dos adultos, com as escolhas que vocês, pais, e nós, escolas, fizemos e faremos a cada dia. Você já pensou nisso? Já dimensionou o tamanho da sua responsabilidade?

Quando comecei minha vida na educação eu queria cuidar das crianças. Mas, aos poucos, fui entendendo que, para educar as crianças, primeiro eu precisava educar a mim mesma, colocar-me no papel natural do adulto da minha espécie, a espécie humana, na função de apresentar o mundo às crianças pequenas.

Como todo ser vivo do reino animal, os humanos não escapam à regra e os adultos devem cuidar dos seres jovens da sua espécie… Cuidar de um ser jovem da espécie: você já pensou sobre o assunto?

Se a meta da educação é a formação do cidadão do mundo, é preciso que as crianças pequenas vivenciem isso ao longo da infância. A escola e a casa precisam ser espaços dessa aprendizagem.

Eu trabalho há mais de quarenta anos numa escola em que as crianças têm suas responsabilidades desde pequenas, escolhem suas atividades, exercitam a colaboração e a solidariedade, desenvolvem a autonomia e o respeito — uma Escola Montessori, a Aldeia Montessori! E tudo isso é possível por meio das escolhas dos adultos.

Pode parecer que dá muito mais trabalho se pensarmos em educação “por atacado”, seguindo uma receita pronta para todos. Para cuidar das crianças como elas precisam, temos que disponibilizar opções, alternativas…
Devemos preparar os ambientes de nossa casa e da escola para as escolhas das crianças, com alternativas que nutram sua curiosidade, que assegurem sua segurança.

Assim, as crianças que ainda estão aprendendo a fazer suas próprias escolhas vão desenvolver e se apropriar de um senso crítico ao longo do tempo, elas vão se construindo como pessoas críticas, íntegras, ativas, que aceitam e respeitam as diferenças; por isso, tornam-se muito mais potentes.

Já os adultos precisam se preparar para oferecer essas oportunidades, a fim de propiciar às crianças a vivência de toda essa maravilhosa experiência de construírem a vida, suas próprias vidas, vivendo-a!

Precisam cuidar dos modelos de pessoas que vão oferecer às crianças, pois elas aprendem com o que veem… Por exemplo, sabe quando você é impulsivo e grosseiro e vê seu filho fazendo o mesmo? São os “neurônios espelho” funcionando, pois eles estão a todo o vapor na primeira infância.

É comum, na chegada do bebê, os pais se preocuparem com a organização do seu quartinho, escolherem o uso da cama compartilhada ou outras coisas tão em voga. Mas aquele pequeno ser vai ocupar a casa inteira…

E aí? Nos primeiros meses de vida, não é só de leite materno que vive o bebê. Ele absorve o mundo pelos sentidos…

Imagens, sons, cheiros, texturas: tudo tem um significado intenso na formação desse serzinho. E essas sensações estão por toda a casa — não só no quarto do bebê, extremamente planejado e imaculado.

Às vezes, nossa ansiedade e desejo nos leva a exagerar nesse cuidado e acabamos criando quartos superdecorados… Mas tantos estímulos acabam deixando as crianças agitadas! Quartos ao gosto dos adultos muitas vezes, mas não de acordo com as necessidades das crianças.

São os pais que apresentam o mundo pela primeira vez às crianças: qual é o mundo que você quer apresentar ou já está apresentando ao seu filho? Preparar a casa para receber a criança e adaptá-la à medida que ela cresce é promover a inclusão de seu filho em sua família.

É isso que vai favorecer suas ações na comunidade familiar, vai poder ter pequenas responsabilidades, vai poder satisfazer suas necessidades básicas, vai poder fazer escolhas, vai poder ser colaborador. Aí nasce a responsabilidade social do futuro cidadão do mundo, aí nasce uma educação cidadã!

Nasce dos valores humanos que vivem em cada família e quando são estendidos pela escola que você escolhe.

Como a escola é um espaço coletivo que coeduca ou coopera na educação, a escola que você escolhe para seu filho precisa caminhar na mesma direção que você escolheu…

Minha opção sempre foi que a escola que dirijo seja uma escola cidadã. Nas escolas em que trabalhei — e olha que já estou educadora há 53 anos! —, os primeiros 11 anos foram em escolas da rede pública. E os últimos 42 anos, por uma oportunidade da vida, numa escola Montessori.

Em ambas, sempre houve espaço para vivenciar valores éticos universais, e cada vez mais tenho a certeza de que eles são a base para o sucesso de qualquer empreitada na educação de seres humanos, realmente humanos.

Em 2016, visitei a Finlândia, tão na moda por seu sistema educacional de sucesso… E o que encontrei como base para o tão admirado sistema educacional foi o investimento maciço na formação do caráter. Claro que as escolas são maravilhosas, mas o que as sustenta, então, é o investimento na formação do caráter, um programa que fomenta o cultivo das virtudes humanas – na colaboração, na responsabilidade, na compaixão, na bondade, na solidariedade.

O que vi foram escolas cidadãs e cuidados com as crianças, que a cada etapa de seu desenvolvimento recebiam a ajuda necessária para formar hábitos e atitudes cidadãs.

E não é o dinheiro que faz isso, são nossas escolhas e nossos valores. Nossas escolhas e valores são o verdadeiro legado que deixamos para nossas crianças.

Márcia Righetti é educadora, fundadora e diretora pedagógica da Aldeia Montessori e do Centro de Estudos Montessori do Rio de Janeiro, coach em Formação Montessori, especialista Montessori pela ABEM, Seton Montessori Institute (Chicago/EUA), CEM – Chile.

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Montessori nos dias de hoje

Io voglio l’uomo che há vinto se stesso e si é formato un’anima grande. l’uomo che há conservato un corpo sano e robusto. Io voglio l’uomo che voglia con me, unire l’anima e il corpo per procreare il figlio! Il figlio migliore, piú perfetto, piu forte di quelli che hanno creato.” *

Maria Montessori. Dal infanzia all’adolescenza, Garzanti, 1939.

Quando Maria Montessori falava sobre seu trabalho, ela própria dizia que o método de educação Montessori poderia ser definido como uma ajuda à vida.

Uma ajuda com a finalidade de ajudar o ser humano na conquista de sua independência; como um meio para libertá-la das opressões e dos prejuízos que era submetida em nome da “educação”; naquela época muito mais restritiva e opressora.

Para Maria Montessori, era a personalidade humana e não o método de educação que deveria ser considerado. Portanto, dizia que o conhecimento científico da natureza das crianças e o reconhecimento dos seus direitos universais deveriam ser os sustentáculos para qualquer procedimento educacional.

O homem é universal e, quer esteja na Índia, na Europa, na América ou no Brasil, as leis que regem seu desenvolvimento são as mesmas.

“Mas onde começa o desenvolvimento da personalidade humana?” Questionava a cientista italiana que dedicou sua vida à criança; tendo certeza de que, para redefinir a qualidade de vida do homem, era necessário educar as crianças assim. 

Para entender a proposta educativa de Maria Montessori, é necessário compreendermos sua história e a história do próprio homem naquele momento cultural. 

A princípio, Montessori inicia seu trabalho numa época em que a Psicologia apenas começa a despontar. Além disso, ela fundamenta sua proposta em uma prática educativa focada na observação da criança, no afeto, na confiança entre o aprendiz e o mestre.

Isso tudo num ambiente que, como um ninho, recebe as crianças, fortalecendo-as no que se torna necessário para suas vidas e nutrindo-as na construção da inteligência.

Durante muito tempo, acreditava-se que a personalidade humana era “herdada” pelas crianças; de geração em geração. E a construção da inteligência humana, que as distingue das outras espécies animais, tornando-a única sobre a Terra, era ignorada.

Como se forma a inteligência humana? Por quais processos passa e que leis regem tais processos?

Ora, se todo o Universo se sustenta sob leis fixas, é impossível que o homem, dele, não tenha sustentado seu próprio desenvolvimento sobre leis semelhantes.

Poderíamos afirmar que as leis que regem o Universo são as leis cósmicas, as mesmas que regem o desenvolvimento do homem.

Somente num terreno bem cuidado podem germinar plenamente as sementes, as quais, por sua vez, constroem uma nova árvore, que certamente poderá produzir frutos saborosos.

Assim, somente cuidando do ambiente que acolherá a criança se poderá garantir um desenvolvimento que promova a conquista da harmonia pessoal; assim como da competência para construir uma vida com melhor qualidade.

Maria Montessori viveu em tempos de guerra, atravessou os dois grandes conflitos mundiais. Talvez por isso a paz fosse tão importante para ela. Talvez por viver o caos dos dias de guerra e de perseguição, a liberdade fosse uma conquista valiosa, inestimável.

Para ela, a construção de melhores condições de vida, de uma humanidade onde os valores éticos universais norteiem as relações; onde cada homem saiba respeitar e possa viver com dignidade, seja qual for seu credo ou sua raça; é o trabalho cósmico que está nas mãos das crianças.

Em toda a sua obra, é grande a certeza de que somente a educação é o agente da transformação da humanidade. Nesse sentido, é certo para Montessori que à criança cabe essa missão redentora, pois é o elo entre as gerações.

A construção da paz entre os homens é, sem dúvida alguma, o objetivo de todo o sistema de educação Montessori, num olhar olha para o sempre. Num olhar que percebe a grandiosidade do trabalho do homem nesse planeta e de toda a sua história.

É necessário que a sociedade moderna possa preparar adequadamente o homem para o estado presente da vida social; para a cidadania; para a organização moral.

Geralmente, os homens são educados considerando-se apenas como seres individuais, com interesses imediatos para serem satisfeitos, competindo com outros indivíduos. Nesse sentido, poucos são os que se dão conta de que somente quando o progresso está relacionado ao bem-estar comum ele se estabelece e se multiplica. Muitas são, certamente, as situações vividas pela humanidade que comprovam tal afirmação.

Podemos afirmar que o que compete à educação é oferecer ao homem as condições de reflexão que permitirão seu próprio aprimoramento e assim, consequentemente, a “reconstrução” da humanidade.

Montessori declara que o homem precisa tomar consciência de sua própria história, perceber inter-relações entre seres e usar do passado para poder construir o futuro.

Mas para tudo isso não basta lançar um princípio abstrato ou propagar uma convicção — é preciso arregaçar as mangas e pôr as mãos à obra. Construir cada etapa, assentar cada tijolo, tendo em mente a importância do trabalho a realizar na educação das crianças.

Quando tudo começou, havia apenas a pequena “Casa dei Bambini” da vila de San Lorenzo, em Roma, 1907.

Hoje, teorias como as de Gardner (sobre as múltiplas inteligências); de Goleman (sobre a inteligência emocional) ou de Emília Ferreiro (sobre a psicogênese da língua escrita) ratificam as práticas montessorianas, assim como a Neurociência.

Afinal, Montessori foi uma cientista demasiadamente brilhante; com a visão da provisoriedade da verdade científica. Teve como base do seu trabalho a observação da criança à luz do conhecimento científico de cada época. A criança de cada momento, de cada país, de cada raça, com suas particularidades; mas sempre a criança que constrói o homem.

Como resultado, cada nova descoberta no campo da ciência permite maior aprofundamento na observação e no conhecimento dessa criança e, consequentemente, da personalidade humana.

Hoje, espalhadas pelos quatro cantos do mundo, as escolas de educação Montessori se multiplicam. Em cada uma delas, ocorrem atividades que se sucedem no cotidiano escolar. Nelas, as crianças vivenciam situações onde podem se exercitar quanto aos valores que fundamentam uma cultura de paz; desabrochando sua criatividade – protagonistas que são da sua educação.

Assim, em ambientes estruturados segundo as necessidades de cada etapa do desenvolvimento desde os primeiros anos, seja nos “Nidos” até a adolescência; ou em classes do Ensino Fundamental e do Ensino Médio; depois, já adultos, na Universidade; todas as escolas montessorianas consagram à vivência dos valores éticos universais um papel relevante na formação dos estudantes. Definitivamente, Maria Montessori também percebeu a importância da educação emocional.

Nesse meio tempo, cada situação de classe envolve uma possibilidade de exercício. Quer seja na ecologia pessoal, aprendendo a cuidar de seu corpo, alimentar-se, educar seus movimentos; ou na ecologia ambiental, ainda assim aprendendo a zelar pela conservação da ordem nos diferentes ambientes no espaço escolar. Pode ainda fazer parte da ecologia social, desenvolvendo atitudes e valores como verdadeiros construtores da paz.

Nessas escolas, o conhecimento acadêmico está diretamente relacionado ao serviço da responsabilidade social; da solidariedade e de outros tantos valores que subsidiam a construção da PAZ.

Dessa forma, educação precisa estar a serviço do homem e este, por sua vez, precisa entender a necessidade do seu serviço à humanidade.

Em suma, essa é a visão cósmica que fundamenta os pressupostos filosóficos do Sistema de Educação Montessori: A PÁTRIA DO HOMEM É O UNIVERSO!

Assim, para Maria Montessori, não bastava uma escola que cumprisse com sua função acadêmica, ela queria mais: queria uma escola que pudesse “formar o homem completo”.

Nesse sentido, esse homem seria consciente de seu papel na humanidade, responsável consigo próprio e com os outros. Bem como capaz de harmonizar o corpo e o espírito. Do mesmo modo, capaz de criar gerações cada vez mais capazes de buscar o próprio aprimoramento e assegura melhor qualidade de relações e de vida.

“A educação não tem o direito de reduzir a instrução a uma simples graduação para conseguir este ou aquele emprego. Este deve ser encarado apenas como um meio prático de nos inserirmos na sociedade. Não se pode encarar tal circunstância como uma finalidade da educação ou estaríamos sacrificando o indivíduo.” — Maria Montessori

“Eu quero o homem que venceu a si mesmo e formou uma grande alma. Quero o homem que preservou um corpo saudável e forte. Quero o homem que quer comigo, juntar a alma ao corpo para procriar o filho! Melhor, mais perfeito, o mais forte que as crianças que eles foram .”*

* Tradução da citação inicial

Por Marcia Righetti – que, além de fundadora e diretora pedagógica da Aldeia Montessori. É pesquisadora, especialista no Sistema de Educação Montessori,  coach de formação Montessori e diretora do Centro de Estudos Montessori.

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Uma trajetória Montessori: desenvolvimento e transformação

Crianças nascem, crescem… Tornam-se jovens a seguem amadurecendo pela vida. E uma trajetória Montessori está relacionada de forma direta ao desenvolvimento e à transformação.

Por isso, surgiu a Aldeia Montessori que, ao abrir suas portas em 1978, compreendeu que, no mundo contemporâneo,  educar é tarefa que vai além dos limites da sala de aula e da formalização de conteúdos.

Por isso, desde e sua “gestação”, a opção pelo Sistema Montessori parecia o caminho mais adequado para que a Aldeia pudesse ser, como imaginava Márcia Righetti, fundadora da escola, o espaço dedicado ao desenvolvimento e as transformações pelas quais passariam as crianças em seu processo de crescimento.

As trajetórias da escola e de sua idealizadora se misturam nesses 40 anos de educação, permeados por muito estudo, conexões com diferentes instituições montessorianas e parcerias que ajudaram a Aldeia nessa extensa caminhada.

A Smirna, desenvolvedora de material didático para salas montessori é um desses parceiros. Sua relação com a Aldeia extrapola o interesse comercial, pois partilham o mesmo ideal educativo legado por Maria Montessori.

Em homenagem às quatro décadas de atuação a Aldeia, a Smirna, carinhosamente, publicou uma matéria sobre Márcia Righetti e a sua trajetória Montessori.

Para ler esta homenagem, clique aqui.

Assim se faz educação relevante: unindo pessoas por meio e ideais e valores de vida que vão muito além do muros de uma escola.

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O tempo das crianças: estimulando criatividade com equilíbrio

Uma escolha entre uma profusão de estímulos e a necessidade do ócio de criatividade.

Crianças são pura energia e, para muitos pais, é preciso mantê-las ocupadas. Então, quando conversamos com elas, é comum comprovarmos a extensa lista de “obrigações” que possuem desde muito pequenas: futebol, capoeira, natação, balé, sapateado, inglês, kumon e assim por diante.

Alguns pais dizem que seus filhos parecem “ligados na tomada” e que só param na hora de dormir. Não é sem motivo que todos os pais se sentem exaustos com seus filhos. Isso porque depois de um dia com tantos afazeres, parece que é normal as crianças continuarem “ligadas”.

Uns pensam: “Quanto mais atividades, melhor”, porque assim a criança chega ao fim do dia cansada e isso facilitaria o sono, permitindo que eles também possam descansar.

Outros entendem que mais atividades representariam mais estímulos e desenvolveriam melhor o potencial da criança.

No entanto, pesquisa recente de Teresa Belton, da Universidade East Anglia, na Grã-Bretanha, sobre a expectativa cultural de que as crianças estejam sempre ativas, conclui que excesso de estímulo pode minar o desenvolvimento da imaginação delas. Teresa ouviu várias personalidades que têm na criatividade a base de seu sucesso, como a escritora Meera Syal e o artista plástico Grayson Perry, sobre como o ócio os ajudou a desenvolver sua criatividade na infância.

Mas o caminho do equilíbrio é, sem dúvida, a melhor opção em cada momento da vida. Todas as nossas escolhas extremas tendem a nos levar a um desgaste físico ou emocional que pode nos fragilizar.

Para os gregos, “schoé” foi o nome atribuído ao ócio, os momentos livres de lazer que estão incluídos entre as necessidades básicas do homem. São nesses momentos preciosos que, com a mente livre, aprendemos coisas novas, refletimos sobre nossas vivências, “arrumamos a cabeça”… E por isso, essas oportunidades de escolha também deveriam ser dadas às crianças!

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“Para o bem da criatividade, talvez devamos diminuir nosso ritmo e ficar ‘off-line’ de tempos em tempos.” – Teresa Belton, pesquisadora

A neurocientista e especialista em deterioração do ritmo das crianças e da mente, Suzan Greenfield, que também respondeu a questões para a pesquisa de Belton, relembrou a infância em uma família com muito pouco dinheiro e sem irmãos até os 13 anos de idade.

“Ela confortavelmente divertia a si mesma, inventando histórias, desenhando figuras para suas fantasias e indo até a biblioteca”, disse Belton.

Ainda de acordo com Belton, que também é especialista no impacto das emoções no comportamento e aprendizado, o tédio pode ser um “sentimento desconfortável”. Para ela, a sociedade “desenvolveu uma expectativa de ser constantemente ocupada e estimulada”.

Ela ainda adverte que a criatividade “envolve ser capaz de desenvolver um estímulo interno”.

“A natureza estimula um vácuo que tentamos preencher”, disse ela. Alguns jovens não desenvolvem a capacidade interior ou a resposta para lidar com o ócio criativamente. Às vezes eles terminam agindo com atos de vandalismo ou buscando emoções arriscadas.

Belton, que também já estudou o impacto da televisão e vídeos na escrita das crianças, afirma ainda que “quando os pequenos não têm nada para fazer, eles imediatamente ligam a TV, o computador, o celular ou algum tipo de aparelho com tela”. O tempo gasto com essas coisas aumentou.

“Mas crianças precisam ter um tempo para parar e pensar, imaginando que possuem seus próprios processos de pensamento e assimilação, por meio de experiências com brincadeiras ou apenas observando o mundo ao seu redor. Esse é o tipo de coisa que estimula a imaginação, ressalta a pesquisadora, enquanto a tela de alguns aparelhos ‘tende a criar um curto-circuito no processo de desenvolvimento da capacidade criativa’”.

Syal, a escritora, diz: “Nós começamos a escrever porque não há nada para provar, nada a perder e nenhuma outra coisa para fazer. É muito libertador ser criativo por nenhuma outra razão além do próprio prazer”.

Quanto à necessidade e importância de atividades no dia a dia das crianças no mundo moderno, são poucas as que vivem em casa com quintal, que podem ficar em casa durante a semana após as atividades escolares com os pais: elas geralmente têm um programa a cumprir, mesmo após a saída da escola…

Coisas do mundo moderno, nas quais os seres humanos vêm se adaptando e buscando formas equilibradas para viver os novos tempos.

O que observamos muitas vezes é que os efeitos de várias atividades são exatamente o contrário do que buscam os pais e em vez de “cansar as crianças” envolvendo-as em atividades, gastando as energias, elas ficam mais aceleradas.

Eu gosto muito de conversar com as crianças e escutá-las, e o que tenho percebido é certa tristeza ao perguntar a elas: “Quando vocês brincam?”.

“Nos finais de semana”, dizem umas.

“Na escola”, dizem outras…

“Nas férias…”

Já foi o tempo em que a infância era o tempo das brincadeiras, do ócio criativo, de estar na companhia do outro conversando simplesmente…

Eu sempre preciso de um “tempo comigo”, o tempo de pensar e botar a cabeça em ordem, de escrever, de criar…

E sei que as crianças também precisam, pois foi na minha infância que aprendi tudo isso…

Ao planejarem as atividades de seus filhos, considerem um tempo para não fazerem nada. Um tempo ocioso onde, deixados livres, pouco a pouco farão descobertas, farão o que quiserem — sem os eletrônicos, é claro! (Mas isso vai ser falado em outra conversa…)

Deixe livros, lápis de cor, blocos de montar e outras coisas que você sabe que agradam seu filho para ele encontrar e se encontrar…

Para escolherem o que quiserem, terão que ousar e criar. E sem nossa ajuda, o que demanda exercício de livre escolha, desenvolvimento do senso crítico e da responsabilidade e muitos combinados. É isso que vai determinar o que é para ser feito, quais as brincadeiras possíveis — elas terão um tempo para a reflexão criativa.

O tempo sem fazer nada é onde tudo acontece!

É onde a noção de liberdade se expressa com intensidade e as descobertas de limites e responsabilidade também vão acontecer; então, aprendemos a conviver!

Que pais não desejam que seus filhos sejam adultos livres, autônomos, criativos e independentes? Que pais não desejam isso para seus filhos?

Não fazer nada é o tempo onde, por meio da criatividade, se constrói a autoestima, a noção de capacidade e competência, a responsabilidade pelas escolhas, a segurança em si. Controlar o tempo todo só gera desejo de liberdade e, quando ela acontece, nem sempre as crianças sabem usá-   -la.

Hoje, em um mundo onde fazer é fundamental, não sobra tempo para ser! No cotidiano de seus filhos, deixem um tempo para que não façam nada e possam ser pessoas felizes, com mais equilíbrio e menos tensão.

Na agenda de vocês, deixem um tempo para “lerem crianças”, observarem os filhos crescendo, sem, obrigatoriamente, terem que fazer algo, o tempo todo. Tenho certeza de que as descobertas serão gratificantes…

Por Marcia Righetti, fundadora do projeto pedagógico da Aldeia Montessori e do Centro de Estudos Montessori do Rio de Janeiro.

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Tempo de acolhida: adaptação e novas rotinas na educação

A capacidade de adaptação sempre levou os humanos a se tornarem capazes!  

Foi assim que começou a ser escrita a história da humanidade. E é assim com cada ser humano: foi comigo, com você e também será com seu filho. Cada um de nós escreve sua história no processo de adaptar-se, de educar-se.

É esse processo que nos capacita como seres humanos, que nos torna capazes de transcender e que transforma o mundo. Só os humanos podem fazer isso e o processo de se adaptar implica ir aprendendo a fazer boas escolhas.

Quando a criança chega ao ambiente escolar, numa nova etapa da sua vida, uma fase importante da sua primeira infância começa. Ao acolhermos uma criança em nossa escola, nós nos preparamos para que suas novas experiências sejam cercadas de cuidados, de acolhimento.

A adaptação escolar não precisa ser traumática, é um processo inerente à condição de ser humano e somos seres adaptáveis. Sendo assim, uma escola Montessori compreende a adaptação escolar como parte natural do desenvolvimento infantil, um novo passo para ampliar o mundo de cada pequeno.

Socializar-se é a competência humana que vai ficar em foco nesse período: novo ambiente, novos amigos, novas rotinas… Mas não se preocupe: seu filho está preparado para isso — mesmo que às vezes reaja com um chorinho ao se separar de você, sua habilidade de socialização é uma condição humana.

Em vez de preocupação: cuidados. Cuidados com o respeito ao ritmo de cada criança! E só conhecendo sua história de vida, podemos entendê-la melhor, introduzindo-a no novo ambiente preparado para o acolhimento e para nutrir sua curiosidade, estimulando interações. ㅤ

Um ambiente Montessori é um convite às brincadeiras!

Todas as atividades têm um cunho lúdico como a criança precisa e ela pode escolher a que mais lhe agrada.

Sabemos que um processo de adaptação traz modificações na rotina da criança, e que isso envolve seu senso de ordem, o que pode afetar a maneira de se sentir segura. Então, também cuidamos disso, com a atenção da qual cada uma precisa.

As rotinas cotidianas são importantes para restaurar a segurança de cada criança e trazer tranquilidade.

Com horários escolares mais curtos no ingresso, as novas rotinas vão sendo vivenciadas com menos ansiedade, permitindo que a criança vá gradativamente absorvendo o padrão da novidade, criando novos vínculos e sentindo-se segura.

A participação cuidadosa da família também é importante. Estar na escola no horário combinado para a saída da criança ou permanecer na escola quando necessário são cuidados fundamentais que asseguram à criança que, após o período escolar, ela voltará para sua casa com seus pais — isso acalma os coraçõezinhos!

Como cada criança é única, cada processo de adaptação também o é. Portanto, na escola estaremos sempre atentos às necessidades de cada um.

Com o tempo e a acolhida necessária, com os cuidados de todos (escola e família), a criança se tornará capaz de avançar e de se abrir às novas descobertas e conquistas no ambiente escolar…

E, certamente, um dia chorará por não querer ir embora para casa naquela hora — nós já vimos isso acontecer inúmeras vezes…

Por Marcia Righetti, fundadora do projeto pedagógico da Aldeia Montessori.